quarta-feira, 18 de agosto de 2010

O cristal está morto



O cristal está morto
Estilhaçado
Ninguém mais
Haverá de o consertar
Pois uma vez trincado
Morto está

 
Cultivemos os grossos vidros
Das visões restritas


Criado e postado por Márcia Fernandes Vilarinho Lopes

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Quimeras da paixão


Da paixão nasceram dias
De rara felicidade
E extrema cumplicidade
Num jogo de sedução
Não pude deixar de amar
Por primeiro o teu sorriso
Depois o teu sério observar
E os teus olhos me seguiam
De longe a me afagar
E mesmo que eu não te visse
Minha a’lma te pressentia
E no meu passo eu seguia
Na sombra do teu caminhar
E ao mais leve dos toques
Da sua barba o roçar
Fui harpa em som de lira
Assim a me revelar
E da música a melodia
Ficou perdida no ar
E os anos foram indo
E a vida foi ficando
Cada vez mais a vagar
E no finito do tempo
E no infinito do amar
Eis nos hoje a sonhar
Com o dia que se foi
Com o ano que passou
Com a vida a passear
E da paixão de outrora
Ficou guardado o vulcão
Hoje sou lava que chora

Criado e postado por Márcia Fernandes Vilarinho Lopes

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Sou deserto...meio e fim


Sem oásis
Sem transporte
Em chinelas
Sem palácios ou quimera
Sou deserto, meio e fim

Na vastidão de areia
Que fere os olhos
No clarão da aurora
Eu me perco assim
Tórrida sem meio ou fim

No calor que abrasa
Que derrete a neve
Nos contrários pólos
Minhas calotas de mundo
Contraditórias em meio e fim

E sigo buscando
Um não sei que, pra que, aonde
Até encontrar a catacumba
Ou a tenda do sheik mais bonito
Prosseguindo entre meio e fim

Criado e postado por Márcia Fernandes Vilarinho Lopes

sábado, 7 de agosto de 2010

Entre Rainha e Mendiga


Fui rainha enquanto você viveu, meu amor
Coroada pelo seu carinho, pelo seu companheirismo
E da sua alegria ensolarada sempre, fosse ou não dia de calor
Participei, vivi, sorvi, e nunca mais me esqueci

Fui rainha enquanto você foi sinfonia
A mais bela melodia que me invadiu e que me conquistou
Na partitura da vida desde os tempos do além etéreo
Em que nós dois nos compromissamos por tudo que calou

Fui rainha nos teus braços, dançando pelos salões
Em que nossos corpos tórridos deslizavam de paixão
E no baile singular em que a música eram os sentidos
Sem maestro e sem rima, apenas em explosão

Fui rainha a cada dia, nas asas do êxtase
Em que você me carregava no colo e me colocava no mar
Na piscina, junto aos filhos, ou mesmo na languidez de nossos desatinos
E como, meu querido, deixar assim de relembrar, de reviver, de sonhar?

Fui rainha desde o dia em que o conheci
A partir de quando em todos os momentos estivemos juntos
E a partir de quando a ninguém mais foi dado o direito de ser
Mais importante e assim você sempre foi meu “ad-junto”

Fui rainha banida da coroa desde o dia em que você partiu
Viúva desconsolada pela perda e pela mais terrível dor
E desde então rastejo pelos caminhos das sombras tênues em conquistas
Mendiga das migalhas do nosso banquete de amor.


Criado e postado por Márcia Fernandes Vilarinho Lopes

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Melancolia


Melancolia é uma saudade da gente
De tudo, em nós, o que a chuva levou
Embaçando a janela de forma latente
Deixando a ante-sala da vida sem cor

Melancolia é uma tristeza tão doce
Que faz acreditar que trouxe
Um pouco dos canteiros do jardim
Sem flores com perfumes de amor

Melancolia é quase querer viver
O dia de hoje tão somente
Sem ter quem quer que o invente

Melancolia, definitivamente, é a ponte
Que une todo o experimentado ontem
Com o nada do amanhã

Criado e postado por Márcia Fernandes Vilarinho Lopes